sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ensaio 5 Pt.2


"Mal sabia ele que sua vida estava prestes a mudar"

A moça ficou meio sem reação a total frieza com que Carl ordenava os outros a fazer qualquer coisa, e sua arrogância diante algumas questões éticas.
No caminho do seu emprego, Carl ficou reclamando de ter que tomar o café em pé em direção ao ponto de onibus, nervoso por ter derramado uma porção em seu suéter branco e ainda ter pegado um dos onibus mais precários, com uma superlotação de mães e crianças que iam para a escola, elas ficavam correndo de um lado para o outro gritando sem pensar.
As crianças riam da cara de Carl devido a mancha de café que se tornou um borrão dando a aparência de desgastado na parte manchada, dando uma forma engraçada para as mesmas.
Uma das mães de uma das crianças que riam disse:
- Filho! pare de rir desse pobre coitado! ele é pobre, não pode comprar outra coisa para se vestir.

Carl sem pensar duas vezes, disse para a senhora que aparentava ter 50~55 anos com uma pele branca como a neve e tinha ironicamente um sotaque britânico também, fazendo assim sua raiva aumentar mais ainda quando se remeteu a moça que o fez se atrasar na lanchonete e ter feito ele passar por isso.

- Senhora! tenho dinheiro para comprar 2 coisas, primeiro , a sua casa e de todos os seus vizinhos e segundo (apontando para a criança), um esparadrapo para calar a boca "de" seu estúpido filho que zomba da minha cara.

- Oh! me desculpe, mas de onde eu vim, o respeito é algo essencial e as pessoas não são tão arrogantes assim. Ela disse com os braços cruzados, procurando impor razão e temor.

- Respeito? você diz sobre respeito mas nem sequer ensinou seu filho a não rir de pessoas estranhas e principalmente julga os outros sem conhecimento, vá para o inferno com esse respeito que você aprendeu.
Dizendo isso ele desceu no ponto e saiu andando esbravejado falando palavrões em japonês (pois era bilingue), e levou o seu dia sem nem parar para pensar no que havia acontecido.

No outro dia de manha, o irmão de Carl havia ligado para ele, dizendo que iria passar na lanchonete para conversar e tratar de alguns assuntos com ele enquanto tomavam café da manha.
O irmão de Carl era 10 anos mais jovem que ele e era o mais amado da família, trabalhava num parque de diversões e tinha uma afinidade extrema com crianças, sua mulher era estéril e por não ter filhos ele adotou dois, ele também despertava inveja de Carl, pois sua mãe ao morrer deu 70% da herança para ele, fazendo-o ficar com míseros 30%.

Na lanchonete, Carl aparentava uma cara fechada, com extremos sinais de insónia e raiva.
- O que foi "brô"? disse o irmão procurando saber.
Sem fazer rodeios como sempre Carl descreveu nos mínimos detalhes:
- Sono, Insónia, um pirralho chato riu de mim ontem e a mãe dele quis me dar lição de moral, uma moça que tomou meu sagrado lugar de rotina para a minha leitura no jornal, e uma pilha de pedidos na empresa.

- Calma meu irmão você vai acabar tendo um infarto e ninguém vai poder avaliar o seu pedido para um coração novo. Disse ele com um tom brincalhão, mas Carl secamente retrucou:
- Diz logo o que você veio fazer aqui e saia, preciso ler meu jornal.

- É o seguinte, eu preciso de um guia turístico para uma amiga minha, ela se mudou para essa cidade esses dias e como eu sei que você conhece essa cidade como a palma da sua mão decidi te indicar, você pode fazer isso? ela precisa muito, já que vai trabalhar aqui...

Ele interrompeu:
- HAHA! você acabou de dizer o que eu ouvi? ou estou sonhando ainda? logicamente que não, tenho trabalhos até o pescoço, e preciso pegar meu suéter na lavanderia, procure outro "trouxa" (tossindo) digo guia para ela.

- Ok! até mais então, preciso ir para o meu emprego.
- E eu preciso ler meu jornal...

No trabalho, Carl vendo uma lista de corações que precisavam de transplante com menos importância, pois tinha ainda um tempo de sobrevivencia, Carl começou a ler o de uma mulher que só tinha como renda um salário e uma pensão de morte do marido, preferiu deixar esse de lado e assim ir almoçar, coisa que também fazia raramente, ele foi para a mesma lanchonete que tomava café da manhã e fez seu pedido.
Ao ir para o seu lugar e ainda com a cara fechada e com olheiras, ele se deparou com a moça que havia roubado seu sagrado lugar:

- Moça, de novo? você esta sentada no meu lugar, por favor retire-se.

-Nunca vi o senhor a essa hora nesse lugar, portanto ele pertence ao senhor somente na manhã enquanto toma seu café quentinho com seu jornal...

Ele disse com uma raiva de querer quebrar o prato:
- Certo, vou me sentar no balcão, fique ai, mas ainda bem que a senhorita sabe que esse é o meu lugar matinal...

Almoçado, ele voltou com raiva para o seu emprego e decidiu que iria negar todos os pedidos daquele dia se apoiando na regra de que: se o pedido fosse negado, ele não poderia ser aberto de novo para sempre, e só poderia ser aberto em outra fila de outra cidade.

- Vou negar todos e estou nem ai, esse é meu único modo de compensar minha raiva e negarei inclusive o dessa senhora pobre. Ele pensou.

Muitos dias passaram e sua raiva passou completamente, mas ele continuara a ser o mesmo homem mal-humorado, a moça ficava o olhando com uma cara de querer descobrir-lo, pois estava tendo uma simples "quedinhalanchonete algumas vezes, fazendo ele ficar feliz por seu lugar estar vazio e reservado somente para ele.
Carl começou a se questionar o por que a moça não aparecia mais, já que estava sendo divertido para ele zombar daquela mulher que não soubera os costumes dele, um certo dia, a moça estava na mesa dele mas no outro banco, deixando o de Carl livre, Carl estava de folga do trabalho naquele dia, com trajes mais despojados e mais leves ele foi desse jeito para lanchonete.

- "Senhor", o lugar do senhor esta livre hoje, já que sentei no outro banco.
- Ótimo, agora deixe-me ler o jornal.
- "Senhor", já tiveste mulher? Namorada? filhos?
- Nunca casei, namorada tive três ou quatro pois não me recordo e não tenho filhos, se tivesse qualquer um desses agora, só iriam me atrapalhar no meu atarefado serviço.
- Você liga muito para isso de trabalho, deixe de ser assim, vai acabar velho numa cadeira balançando e resmungando, vamos andar comigo? te prometo que irei levar-lo a lugares interessantes.

Carl se questionou sobre ir ou não, já que a sua vida naquele dia ia ser voltar para a casa e dormir de novo, ou arrumar a casa antes da empregada e decidiu ir somente afirmando com a cabeça dizendo baixo:

- Tá bem.

Eles passaram pelo museu de historia da cidadezinha e por uma loja de antiguidades, Carl ficava pensando: por que eu aceitei o convite de uma pessoa que eu mal conheço e que já peguei uma certa antipatia por ter roubado meu lugar varias vezes na lanchonete? sei lá, pois seja o que for, já estou aqui e vamos ver no que dá.

Ao fim do dia, eles pararam em um ponto de onibus, Carl queria se despedir logo da moça e não queria muita conversa com a mesma, mas incrivelmente não conseguia evitar ou ficar calado a cada pergunta que ela fazia.

- "Senhor" vou pegar o onibus e ir embora, adeus, até outro dia. E sem pensar duas vezes beijou Carl na boca.

Ele, sem reação e querendo se situar disse:

- Senhorita, me respeite pois não sou fácil e exijo dignidade de sua parte, nem nos conhecemos direito e a senhora já faz isso? passar bem o resto dessa tarde e não converse mais comigo na lanchonete

A cara de Sandra ficou corada e ela se desculpou dizendo:

- Oh! me desculpe, adeus. E saiu procurando se esconder embaraçosamente do olhar dele para o onibus.

Ao chegar em casa ele ficou pensando: por que ela fez isso? por que? sem mais nem menos fez um ato daqueles? e por que agora estou com uma sensação estranha de que eu não devia ter dito aquilo? é melhor eu ir dormir para amanha, o trabalho me espera.

Continua.

Um comentário:

Guilherme Heinzelmann Benta disse...

ah, o nome dela é Sandra, então...
Quantos anos eles têm? pq imaginei ela muito mais nova, devido ao mau humor do cara...